E se a rolha de cortiça, para além de proteger o vinho e participar ativamente na sua evolução, funcionasse como um escudo protetor contra materiais indesejados como os microplásticos, tristemente famosos por estarem presentes em todos os ambientes, incluindo o organismo humano? Esta é uma das conclusões do estudo “Microplastic contaminations in a set of beverages sold in France”, levado a cabo por uma equipa de investigadores de Boulogne-sur-Mer, em França, interessados em analisar a potencial correlação entre as embalagens escolhidas e os níveis de contaminação com microplásticos das bebidas. Em análise estiveram bebidas como o vinho, a água, os refrigerantes e a cerveja, vendidas em solo francês. As embalagens analisadas incluíam tetra-pak, bag-in-box, garrafas de vidro e garrafas de plástico.
Uma barreira natural
A investigação, publicada em maio deste ano no Journal of Food Composition and Analysis demonstrou que, de forma contraintuitiva, as garrafas de vidro apresentavam níveis de microplásticos mais elevados em comparação com outros tipos de embalagens. Exceto, precisamente, no caso das garrafas de vinho vedadas com rolhas de cortiça, que se apresentavam praticamente isentas de microplásticos. A equipa de investigação atribuiu essa diferença à utilização de um material natural como a cortiça, em detrimento das cápsulas de rosca, muitas vezes pintadas com tintas. “Os resultados mostram que os recipientes de vidro estavam mais contaminados do que outras embalagens para todas as bebidas, exceto no vinho, porque as garrafas de vinho eram seladas com rolhas de cortiça em vez de cápsulas metálicas” lê-se no estudo.
Ao analisar os conteúdos das garrafas de vidro, os investigadores observaram que a maioria dos microplásticos isolados, e passíveis de serem ingeridos, correspondia à cor e composição da tinta usada para cobrir os vedantes artificiais, sugerindo que as partículas tinham precisamente origem nessas cápsulas. No caso do vinho, a presença de rolhas de cortiça eliminou praticamente esta fonte de contaminação, tornando-o a bebida embalada em vidro com menores níveis de microplásticos. Este estudo, realizado por uma equipa da Unidade SANAQUA, das Universidades de Littoral Côte d’Opale, Instituto INRAE, Universidade de Lille, Universidade de Picardie Jules Verne, Universidade de Liège e Escola de Engenharia de Junia, reafirma o valor da cortiça, um material 100% natural, biodegradável e 100% livre de plásticos, como solução sustentável, saudável e segura para a indústria do packaging.
© Daniel Rodrigues