Originalmente desenhada em mármore nos anos 1970, esta peça de Daciano da Costa é agora reeditada em cortiça, num exercício que mantém o desenho original e o reinterpreta à luz das preocupações contemporâneas com a sustentabilidade e com o uso de materiais naturais. O conjunto, composto por duas taças de dimensões complementares, resulta de uma colaboração técnica com a Amorim Cork Solutions, que assegura a transposição do rigor do projeto para a nova matéria-prima.
Daciano da Costa começou a trabalhar na área do design na década de 1950, num país ainda sem ensino estruturado na disciplina e fortemente condicionado por um contexto político conservador. O seu percurso, entre a arquitetura e as chamadas “artes decorativas”, contribuiu para afirmar uma prática moderna e funcional, marcada pela atenção ao uso e pela clareza formal.
Defensor de que “a forma é sempre uma construção social, interativa e emocional”, via o design como um reflexo direto das condições e dos modos de vida de cada tempo. A escolha da cortiça nesta reedição prolonga esse pensamento: tal como o mármore refletia os valores materiais e culturais da época em que a peça foi criada, a cortiça traduz hoje uma consciência ambiental e uma ligação mais próxima à paisagem e à economia portuguesa.
A reinterpretação da obra reafirma a importância do design português como expressão de identidade e continuidade cultural. Ao recuperar o trabalho original de Daciano da Costa, esta edição mantém vivo o seu legado e demonstra como o design pode, simultaneamente, preservar a memória e responder aos desafios do presente.